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28 de Setembro de 2024
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    Sobrou pra todo mundo!

    Publicado por Espaço Vital
    há 14 anos

    Aquela que seria mais uma das tantas sentenças em casos envolvendo acidentes de trânsito merece destaque em especial por conter um forte e detalhado desabafo justamente de quem a proferiu: a juíza Luciana Bertoni Tieppo, do 1º Juizado da 4ª Vara Cível de Passo Fundo (RS).

    Ao julgar uma ação de indenização de danos morais e materiais sofridos por três pessoas atropeladas por um veículo particular envolvido em uma colisão com um ônibus de uma empresa de limpeza urbana da cidade do interior gaúcho, a magistrada expôs abertamente a grave situação do trânsito naquela cidade.

    Revelando que o município lhe deixou uma má impressão, a julgadora foi incisiva: "Desde que passei a residir em Passo Fundo, em agosto de 2007, a falta de educação e de respeito de todos no trânsito foi o que, infelizmente, mais me chamou atenção nesta cidade."

    Ninguém foi poupado das críticas da juíza Tieppo - motoristas ou pedestres -, pela falta de obediência às mais básicas regras de trânsito. A lista de barbaridades citada pela magistrada e de inconformidades é extensa, algumas vezes recorrendo à boa ironia:

    * "Motoristas não param na faixa de segurança nem mesmo nas proximidades das escolas para crianças atravessarem a rua."

    * "Pedestres atravessam a rua fora da faixa de segurança, em qualquer lugar que lhes convém, contornando os veículos."* "A maior parte dos motoristas não sinaliza a direção que irá tomar, nem mesmo quando vai estacionar."* "Não sei se os carros aqui comercializados têm este item a seta indicativa de direção que tinha para mim como obrigatória -, como opcional."* "Os carros são parados a todo momento, de inopino, por seus motoristas em filas duplas, impedindo a passagem dos demais veículos."* "É, bater um papinho, afinal lugar mais apropriado que a rua para conversar não há, principalmente no final de semana, para combinar a balada, um churrasquinho. Afinal, não é sempre que se encontra um amigo na rua. Sim, para conversarem, dar um recadinho, sequer se importando se há outras pessoas que precisam passar pela rua. Os demais motoristas que aguardem, afinal." * "Há também os que resolvem andar a 10 ou 20Km por hora, passeando, em via de circulação rápida, trancando todo o trânsito. Isso é comum nos bobódromos do final de semana." * "Os condutores, ainda, têm o grave hábito diário de trancarem os cruzamentos e pararem nas faixas de segurança, sem contar a alta velocidade imprimida por alguns motoristas." * "Ônibus, cujos motoristas representam empresas concessionárias de serviços públicos, são frequentes trançadores de cruzamentos." * "E para estacionar? Ah, um problema sério. Sinaliza-se é certo que poucos motoristas fazem isso, mas alguns ainda utilizam a tal da seta indicativa de direção -, sim, ela ainda existe em alguns veículos, embora, repita, tinha o conhecimento de que era obrigatória-, que se vai estacionar em determinado local e o carro de trás, ao invés de aguardar a manobra, não raras vezes, cola, cola mesmo, na traseira do veículo que pretendia estacionar, impedindo a manobra." * "Destaco, ainda, que raros os motoristas que deixam outro veículo ingressar da via não preferencial na sua frente ou trocar de pista." * "Os motoristas param nas garagens, como se fosse totalmente permitido, sim, um local de estacionamento qualquer. Tal fato ocorre quase diariamente na própria garagem do Fórum." * "E as motocicletas? Ah, as motocicletas! Ultrapassam os demais veículos pela direita, pela esquerda, pelo meio, andam em alta velocidade, cortam a frente de outros veículos, não respeitam os pedestres, carregam crianças no meio sim, no meio, entre dois adultos, assim como um sanduíche." * "Quando alguém buzina para evitar um acidente, recebe em troca um famoso gesto obsceno." * "Há, também, aqueles que ultrapassam toda uma fila de carros que estão aguardando para ingressar em uma rua, mormente no horário do pico e pretendem passar na frente do primeiro veículo, cortando a fila. Que esperteza..." * "Nas estradas não é diferente: motoristas viajam em alta velocidade, realizando manobras e ultrapassagens indevidas e perigosas, em locais proibidos e sem visibilidade, a todo momento, sem qualquer cautela, diligência e prudência, muitas vezes causando a morte de um ser humano, ou sua mutilação, arruinando a vida da vítima e de seus familiares." * "Outro fator gravíssimo que não pode ser esquecido são os motoristas embriagados que acham que podem dirigir, sim, são capazes e não tem noção de que são um perigo em potencial." * "Também existem os caminhoneiros que usam medicamentos para não dormirem e poderem dirigir durante a noite. Afinal, a carga é dinheiro, logo, mais importante do que a vida do motorista ou de outra pessoa..."

    Ao exortar que os cidadãos ajam com mais humanidade, dignidade, solidariedade e amor ao próximo, a juíza ainda citou casos reais presenciados por ela própria.

    O primeiro: "Estava me deslocando com meu veículo na via preferencial e vi uma senhora idosa, tentando atravessar a rua, na faixa de segurança, com muita dificuldade. Parei o carro. O motorista que vinha atrás, quase bateu no meu, não só buzinou, como me xingou. Não ouvi as palavras proferidas, embora tenha visto um gesto bastante obsceno, até porque não me preocupo com tais coisas. Mas provavelmente, além de outras coisas, deve ter dito só podia ser mulher... embora seja estatisticamente comprovado que as mulheres causem muito menos acidentes, porque mais prudentes".

    E o segundo:"Acho que para um pessoa idosa conseguir atravessar uma rua nesta cidade, deve ser como ganhar uma medalha na olimpíada -, chegando ao ponto de fazer sinal para os carros pararem, em gestos defensivos, como se atacasse os carros, enquanto cruzava a via pública."

    A sentença ainda traz muitas palavras mais sobre o caos no trânsito e vale ser lida, não só pelo julgamento de mérito bem fundamentado e detalhado, mas pela crítica social que oferece e pela mensagem que deixa:

    "É dever de todos nós melhorarmos as condições de trafegabilidade, não só nesta cidade, mas em qualquer outra, assim como das estradas, mormente porque estão em jogo não só questões materiais afinal carro batido tem que ser consertado, o que sai caro -, mas principalmente questões humanas, valores atualmente tão esquecidos, que não desisto de acreditar serem muito mais importantes do que a pressa para se chegar... aonde mesmo?"

    Em tempo: os réus foram condenados a indenizar danos materiais de R$ 127,75 e morais que chegam a R$ 130 mil. Ainda cabe recurso. (Proc. nº 021/1.05.0007111-4).

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/sobrou-pra-todo-mundo/2312245

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