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27 de Junho de 2024
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    Em palestra, economista revela meandros do capitalismo improdutivo

    “Utilizamos tecnologia do século XXI com regras do século XIX, em que os gigantes da economia fazem o que querem com a natureza e com o sistema de produção.” A declaração foi feita pelo economista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Ladislau Dowbor, palestrante do seminário sobre o capitalismo improdutivo, promovido pelo Fórum Democrático da Assembleia Legislativa, na manhã desta sexta-feira (10).

    Autor do livro “A Era do Capitalismo Improdutivo”, que foi lançado na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre, Dowbor revelou os mecanismos usados pelas corporações financeiras para aumentar seus lucros sem produzir bens materiais, exercer poder político e influenciar as decisões do Poder Público. Na palestra, ele desnudou os estratagemas que permitem que bancos e outras instituições financeiras obtenham lucros bilionários em plena recessão capturando a renda dos trabalhadores.

    O economista chamou este processo de “financeirização”, prática que dilacera as economias mundo afora ao forçar governos eleitos a cumprir agendas refutadas nas urnas. Isso fica claro quando desviam grande parte dos orçamentos públicos para o pagamento de juros da dívida, fortalecendo o capital financeiro em detrimento de políticas públicas de saúde, educação e previdência. “O capitalismo em curso não precisa mais da democracia. Não vivemos o fim do capitalismo, vivenciamos o fim do capitalismo democrático”, preconizou.

    A financeirização, segundo ele, é baseada na captação da renda por meio de juros. “ Quando um trabalhador paga R$ 2.400,00 a prazo por uma geladeira que custa R$ 1.200,00 à vista, ou seja, paga o dobro pelo produto, equivale a uma redução de 50% nos seus ganhos”, exemplificou.

    De acordo com o economista, o atual estágio do capitalismo funciona como uma bola de neve que enriquece quem já é rico. Dos U$S 80 trilhões que compõem o PIB mundial, US$ 30 bilhões estão em paraísos fiscais, que não investem e não pagam impostos. “Não é mais produzindo que se ganha. O dinheiro no atual sistema deixou de ser um mecanismo de fomento. Na realidade, o capital financeiro não está financiando atividades produtivas. O dinheiro está indo para o sistema financeiro e descapitalizando a economia”, observou.

    Ele revelou ainda que a taxa de juros aplicada no Brasil é responsável pelo travamento do consumo das famílias e, consequentemente, da economia brasileira. Os juros para pessoa física no país giram em torno de 156% ao ano, enquanto na Europa são de 3,5% ao ano. O mesmo acontece com os juros para as empresas, que no Brasil variam entre 30% e 50% ao ano, ao mesmo tempo em que nos Estados Unidos e Europa ficam em cerca de 2,5% ao ano. “Hoje, temos no Brasil 61 milhões de adultos que não conseguem pagar os juros do que já compraram, o que dirá comprar coisas novas. Neste cenário, o empresário não produz por não ter para quem vender e aplica no sistema financeiro, com menos risco e mais lucratividade”, explicou.

    Concentração de riquezasA nova face do capitalismo, na visão do economista, gerou uma concentração de renda e patrimônio sem precedentes na História. “Hoje, as oito famílias mais ricas do mundo (1% mais rico da população) concentra o mesmo volume de recursos da metade da população do planeta”, contabilizou.

    Dowbor citou estudo que aponta que apenas 737 grupos controlam 87% do sistema corporativo mundial. Do total, 147 corporações dominam 40% do sistema, sendo que três quartos delas são bancos. “O poder se deslocou com a financeirização da economia. O capital médio de cada um destes bancos é de US$ 1.7 trilhão, o mesmo que o PIB do Brasil, que é a 7ª economia do mundo”, comparou.

    A captura do poder, conforme o professor, não se dá mais pelos lobbies, mas pelo financiamento direto das campanhas eleitorais. “Compram no atacado, deformando o artigo primeiro da Constituição, que diz que todo o poder emana do povo e não das corporações”, frisou, lembrando ainda que os acordos extrajudiciais firmados pelas empresas, a aliança com a mídia e os avanços nas universidades também são formas de capturas de poder.

    Novo rumoPara ele, a solução para a atual crise passe pelo redirecionamento do dinheiro para o financiamento da economia e pelo fomento ao consumo das famílias. O conhecimento, na visão do professor, é o principal fator de produção, com a peculiaridade de que o seu “uso não reduz o seu estoque”. “Isso muda radicalmente a economia. Estou convencido de que mais da metade do valor dos produtos hoje não é mais trabalho físico e matéria prima, é conhecimento incorporado”, explicou.

    Conforme o professor, a aliança do conhecimento com a possibilidade de as pessoas se conectarem diretamente cria um novo paradigma, que ele define como “economia colaborativa”. “A lógica de que o sistema cooperativo rende mais do que o competitivo é o novo rumo. A atividade bancária é necessária, mas o banco não”, exemplificou, destacando que há inúmeras possibilidades existentes para as relações de trabalho diante das novas tecnologias.

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